Considerações iniciais

Na discussão sobre cicatrização, devemos levar em conta a capacidade do tecido de renovação para avaliar os níveis de perda e reposição tecidual. Essas capacidades dependem se o tecido é lábil ou estável (crescimento compensatório).

Uma célula normal que sofre lesão pode ter esse problema solucionado por regeneração ou reparo.

A regeneração ocorre se o arcabouço foi mantido ou não é necessário (ex: linhagem hematopoiética) e se a capacidade replicativa das células originais é suficiente.

O reparo, por outro lado, ocorre em contexto de perda considerável de arcabouço ou superação da capacidade de regeneração, sendo fundamentado numa hiperplasia compensatória que resulta em cicatriz. Esse reparo pode ser focal (ex: corte simples, granuloma) ou difuso (ex: inflamação crônica, sarcoidose), a depender da lesão realizada. Na inflamação crônica, há fibrose com perda da estrutura local.

No reparo tecidual, dependemos de células e do arcabouço tecidual, que são importantes para o funcionamento do tecido. No fígado, por exemplo, os hepatócitos encontram-se organizados em trabéculas por uma fina camada de reticulina.

Na hepatite viral aguda, o hepatócito é rapidamente lesionado e a lesão é direcionada. Desse modo, não se compromete a fibra reticulínica, o que permite regeneração hepática pela capacidade de replicação dos hepatócitos. Este caso é mais rápido e ocorre com predomínio de apoptose.

Na hepatite crônica, o arcabouço é continuamente destruído, o que resulta no seu desabamento e num repovoamento inadequado pelos hepatócitos, devido à ausência de organização na matriz extracelular, culminando em fibrose e eventualmente em cirrose. Neste caso, haverá deposição de colágeno, que irá retrair-se após a cicatrização, formando nódulos. Os neutrófilos liberam elastases, colagenases e metaloproteinases, de modo que uma inflamação neutrofílica (Th17) pode destruir o arcabouço de maneira significativa. Este caso é mais lento e ocorre com predomínio de necrose. Nos tecidos permanentes (miocárdio, tecido nervoso), sempre ocorre reparo por cicatrização, com fibrose.

Lembrete: as hepatites B e C podem tornar-se crônicas, enquanto a hepatite A é aguda.

Manifestações clínicas da insuficiência hepática aguda: icterícia (dificuldade da conjugação de bilirrubina); edema (redução da pressão coloidosmótica do sangue por hipoalbuminemia); azotemia à encefalopatia (não metabolização da amônia e outras excretas nitrogenadas); dificuldade de metabolismo de glicogênio e lipídios; sangramentos (menor produção de fatores de coagulação).

Atividade proliferativa dos tecidos

Os tecidos podem ser classificados segundo sua atividade proliferativa: lábeis apresentam maior capacidade de regeneração, estáveis/latentes são intermediários e permanentes apresentam maior capacidade de cicatrização;

No contexto do reparo tecidual, tanto célula como arcabouço devem ser restabelecidos para o funcionamento do órgão. Nos tecidos lábeis e estáveis, o componente celular é facilmente restabelecido pela presença de células-tronco. Essas últimas podem ser células comprometidas com linhagens específicas ou células somáticas (maior especificidade que as primeiras e comprometida com tipos específicos do tecido);

Obs.: Células tronco comprometidas com linhagem são capazes de originar células apenas de uma mesma família. As células diferenciadas derivadas dos folhetos embrionários estão presentes no adulto e são usadas no reparo e regeneração tecidual, pois formam células somáticas. Por exemplo, uma célula ectodérmica pode formar células epiteliais da pele. No fígado, a célula tronco somática epitelial pode formar hepatócitos e células dos ductos biliares.

Obs.: Células tronco comprometidas com linhagem são capazes de originar células apenas de uma mesma família. As células diferenciadas derivadas dos folhetos embrionários estão presentes no adulto e são usadas no reparo e regeneração tecidual, pois formam células somáticas. Por exemplo, uma célula ectodérmica pode formar células epiteliais da pele. No fígado, a célula tronco somática epitelial pode formar hepatócitos e células dos ductos biliares.

O arcabouço estrutural é mantido pela matriz celular, que apresenta componentes fibrilares como colágeno e elastina e componentes não fibrilares com função metabólica como proteoglicanos.